Entrando no Armário

Em primeiro lugar: eu continuo usando o velho Pentium 100. Mas de qualquer forma queria dividir algumas idéias.

Dia destes conversava com uma pessoa, que entre um assunto e outro me dizia: "mas eu não saio do armário de jeito nenhum", alguns dias depois lia no blog da Clarissa (cujo link você encontra aqui do lado) um rapaz que falava do namorado que não queria "assumir" de maneira alguma. Juntei à estes dois acontecidos, as dezenas de perfis que vejo em sites de relacionamento entre rapazes cujo texto não fica muito diferente disso: "sou discreto", "sou macho e curto macho", "não curto efeminados" e por ai vai, e fui desenvolvendo um pensamento que tentarei de forma clara e objetiva expor aqui.

Tenho visto que a cada dia que passa gays (principalmente os rapazes) adotam mais e mais uma postura "hetero" na vida social. Se nos anos 90 a expressão "sair do armário" se tornou uma espécie de bandeira do movimento gay ao redor do mundo, eu arriscaria dizer que neste início de século "voltar para o armário" é o que há! E entendo este movimento de "voltar para o armário" dentro de um contexto bastante amplo, e muitíssimo bem fundamentado.

Em primeiro lugar. O mundo pode até estar mais tolerante quanto à homossexualidade. Mas sim, ainda existe discriminação e preconceito em todos os lugares, e talvez o pior tipo deles, o preconceito velado, àquele que se justifica por outros meios, e que por vezes torna o candidato à uma vaga importante em uma grande empresa menos qualificado que outro candidato não gay; o preconceito que insiste em representar gays de forma esteriotipada na mídia; o preconceito que se traduz no olhar de reprovação quando um casal de dois homens decide andar de mãos dadas dentro de um shopping (e se forem se beijar então é possível que chamem a segurança) e por ai vai.

Um segundo ponto da minha teoria: o advento da internet. É fato que o crescimento do acesso à rede mundial de computadores, com os chats e sites de relacionamento, onde é possível encontrar o tipo de parceiro preferido, tanto em características físicas como em traços básicos de personalidade, fez crescer o número de gays que se mantiveram "dentro do armário", uma vez que não existe mais nenhuma necessidade de expôr-se além do necessário. Diria que é a nova geração de gays, hoje na faixa dos 20 aos 25 anos, os já batizados de Geeks. Também com o surgimento da internet, homens maduros (acima dos 40 anos), que muitas vezes tinham uma "vida heterossexual", algumas vezes inclusive casados e pais de família, viram suas possibilidades de encontros homossexuais aumentarem, pela mesma facilidade já citada: a não exposição no meio social.

Temos então: uma nova geração de gays que não vê necessidade alguma em deixar o ármário, uma que faz o movimento de retorno, a geração dos anos 90 que gritou ao mundo "I'M COMING OUT" (eles e Diana Ross), e foi pouco ou nada acolhida, e o grupo de bissexuais. Mas não termina ai. Com duas gerações, e motivos distintos, entrando no armário, criou-se então um outro movimento: a discriminação entre gays. Ficam de fora das possibilidades de encontros os assumidos, os efeminados (cuja definição é absolutamente subjetiva), "as pintosas", etc etc etc. Mas como ninguém quer ficar de fora, estes grupos tendem a adotar novas posturas, com duas possibilidades: passam a relacionar-se entre si (o que é menos usual) ou acompanham o movimento e entram no armário (aqui surge o que habitualmente chamam de "gays discretos").

Mas é preciso estar atento ao fato de que "voltar para o armário" não significa necessariamente um retrocesso, porém ainda não se pode dizer que seja um avanço, ou uma evolução do movimento gay, já que é algo recente. Também é preciso lembrar que muito do contexto "voltar para o armário" está diretamente relacionado à postura diante da sociedade. Alguém interessado em discutir mais sobre o tema? Me procure por favor....